quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Sobre Barulho e Escolas

O nível de desinformação que rola no Facebook e a facilidade que as pessoas têm pra abraçar algumas bandeiras sem o menor senso crítico é algo que me entristece. O mesmo vale para parte da mídia que replica com levianidade os mesmos argumentos parciais que infestam a rede. Vi muita gente sem noção comentando o caso da escola União Criança nos útimos dias. Digo "gente sem noção" porque a impressão que tenho é que nenhuma das pessoas que repostou mensagens de pais indignados se prestou a estudar o caso a fundo. A maioria - se não todas - as mensagens assume um maniqueísmo grosseiro: de um lado, as pobres crianças que "perdem o seu direito à infância", como disseram por aí. De outro, a vizinha egoísta que pretende "acabar com a educação no país", como também disseram por aí. Gente, a discussão não é bem essa. Por trás de toda a história está a direção do Grêmio Náutico União que desde 2007 vem tratando o caso com descaso (rá!) sem tamanho.

Vamos aos fatos: a escola União Criança costumava estar localizada dentro do clube, em um espaço amplo, bem diferente do espaço em que se encontra hoje. A mudança ocorreu porque o clube resolveu construir um estacionamento onde antes ficava a escola. Estacionamentos são um negócio bem mais rentável que a educação. Todos sabem disso. No fim das contas, a escola foi transferida para uma casinha na Rua Marquês do Herval. De um lado dessa casinha mora a vizinha que entrou na justiça e que acabou sendo tratada como vilã da história, mesmo sem ser. Do outro lado, moro eu e minha família há 25 anos. A janela do meu quarto, aliás, dá exatamente para o pátio da escola. Estão dizendo por aí que o processo todo é um absurdo, que representa a vontade de uma pessoa contra a vontade de todos. Vontade de todos? Peraí! Quer dizer que a vizinhança do Grêmio Náutico União não faz parte desse todo? Desde que moro aqui (minha vida inteira!) o ruído oriundo do clube sempre foi um pé no saco. E tenho certeza de que não falo só por mim. Tanto que existe outro processo, movido por outros vizinhos, que reclamam justamente do barulho descomunal gerado pelo clube. Barulho esse que, diga-se de passagem, não tem dia nem hora pra acontecer, já que a sede Moinhos de Vento é "pioneira no oferecimento de serviços 24 horas".

Mas voltemos à escola: se o barulho já era ruim antes, ficou ainda pior. Na realidade, o volume de emissão sonora da escola é cinco vezes superior ao permitido por Lei. Isso foi atestado por perícia realizada a mando do TJ. Se é natural que crianças façam barulho, não é natural - muito menos saudável - que alguém esteja sujeito a esse barulho doze horas por dia. Imagina que tu quer falar ao telefone quando vinte cianças estão no pátio. Não dá. Agora imagina que tu quer ler. Também não dá. Imagina que tu quer estudar. Desiste, chapa. Agora imagina que tu depende justamente disso tudo pra sobreviver. Imagina que teu sustento está baseado em algum tipo de atividade que exige o mínimo de concentração. Esse é o caso da vizinha que moveu o processo, e esse é também o meu caso. Nos últimos cinco anos, tenho sido obrigado a ajustar a minha rotina à rotina da escola. Nesse tempo, compartilhei minha frustração com muita gente. É triste não conseguir fazer o que se tem vontade dentro da própria casa. Se alguém duvida que a situação seja essa, as portas estão abertas. Empresto o quarto pra quem quiser trabalhar uma tarde aqui. Se conseguir fazê-lo, ganha um doce. Salvem a União Criança, sim, mas salvem-na da negligência da administração do clube. E vamos ser mais criteriosos pra não difundir bobagens por aqui. Se alguém tiver interesse em conhecer melhor o caso, estarei debatendo a situação no programa Polêmica da Rádio Gaúcha (FM 93.7 / AM 600) amanhã a partir das 9h30.

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