domingo, 26 de setembro de 2010

Os Pastéis

Sábado à tarde e os velhos
Comem pastéis e bebem cerveja
Em algum bar esquecido do Centro
Contam histórias e escutam o futebol
Fazem isso para passar o tempo
Que já não têm.

sábado, 28 de agosto de 2010

Valeu, Cara

Já passou, cara, já passou
Não te preocupas mais, afinal, cara, já passou
Pensa nas ondas, nos jogos, nos tragos
Pensa na tua mãe, no teu pai, na tua guria
Pensa em nós, teus amigos
E vai tranqüilo
Vai com aquela tranqüilidade que só quem teve tantos amores pode ter
E não te procupas mais!
Sei bem que já faz um ano e sei bem que temos saudades
Mas temos também força e raça
Então vai tranqüilo, eu disse
Que na volta a gente se fala.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Reflexão

Meus olhos são negros,
E verdes e brancos e vermelhos
Mas o que vejo no espelho não é o que sou
Não sou só cabelo, boca, nariz
Não sou sobrancelha, pescoço, língua
E dente e orelha
Em mim há mais do que pêlos, mãos, dedos
Mais do que braços, pernas e pés e unhas
Sou mais do que mamilos, pênis e bolas
Ainda que me pudesse ver por dentro,
Todos os ossos, órgãos e mucos e sangue
Ainda assim
Esse não seria eu

Sou o que está através do espelho
Sou física e química em simbiose espiritual
Sou o que sinto e sou também pensamento
Aquilo que não tem reflexo.

domingo, 1 de agosto de 2010

Callejeras

Mara tiene muchas amigas:
Brisa es la mejor de Santa Fé
Luz cumple todas las fantasías
Brenda es atrevida
La más caliente de la ciudad es Esmeralda
Carolina hace completitos por las mañanas y
Laurita hace hasta el final
Doble placer con Kamy y Sofi, la Bebota
La Dama del Lago te espera
Tina tiene la mejor cola
Atención: renovamos el plantel para que no te aburras
Aprovecha la promo de hoy.

domingo, 25 de julho de 2010

Plaza del Gato

El gato en la plaza está en su estado natural
Salta aqui y allá, persiguiendo a los pájaros
Recibe a los visitantes frotandose en el enrejado de la fuente
Porque todo le pertenece a él y eso es claro
El gato es un salvaje en la plaza
Incorpora la experiencia de miles de generaciones de gatos
Sus abuelos no han dejado legado que no sea este
Así va el gato, disparando ataques imaginarios en el aire
Levantando la cola para que todos lo vean:
Una vez que es gato, la timidez no es necesaria.

domingo, 18 de julho de 2010

Spleen

Meus amigos me esqueceram
Minha garota me esqueceu
E mesmo minha família me esqueceu
Então cá estou, sorvendo a bílis negra

Fico em meu quarto esperando
Escuto os barulhos da rua
É vento e a chuva
Ou é o som do fim do mundo?

Imagem que vem e vai
Ansiedade infinita
Espero algo acontecer,
Mas algo nunca acontece
Cada hora aqui é como se fossem anos

Só me resta dormir
Dias como hoje me ensinaram
Que por pior que sejam,
As tempestades sempre terminam.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Quase-Soneto da Resposta

Dou mil vidas e mais por um minuto contigo
Quero voltar atrás, fazer tudo novamente
Mas quero que seja agora: quero viver o presente
Encontrar-me outra vez sob teu abrigo

Quero esquecer as dores, as lágrimas, as mágoas
Não porque tenha medo disso tudo
Pois viveria outra vez isso tudo
Mas prefiro pensar nas danças, nos abraços, no beijos

(Saudades dos beijos!)

Alguém me disse pra dar um tempo
Talvez agora seja mesmo duro recomeçar
Mas quanto ainda tenho de tempo?

Quero uma nova chance pra dizer que te amo
Mas se agora não dá, não vou forçar a barra
Prefiro tentar te ganhar assim: oi.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Noite de Inverno

Noite de inverno lá fora
Aqui dentro é tão quente que mal consigo dormir
Reviro-me na cama entre montes de cobertores que não são meus
Mas de memórias passadas
O tempo se alonga e com ele
Aumenta minha inquietude
Penso no amanhã
Até ser finalmente engolido pelo sono
Acordo várias vezes durante a madrugada
Só para repetir o processo

Na manhã seguinte tenho a cama vazia
E a garganta seca.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Cidade

A cidade foi se erguendo aos pouquinhos
Fundada em um terreno vazio
Tijolo sobre tijolo
Em pouco tempo, a cidade surgiu
Concretando-se em torno daquilo que amava

O cinema favorito,
Banco de pedra na praça,
Cheiro de comida ao meio-dia
Barulho de britadeiras e
Gritos de criança

Passarinho que canta sempre igual
As tortas de maçã
Noites de calor, banhos gelados
Vento na rosto
Café não bebido entre cochilos no sofá

Livro não lido e outros tantos
Esquecidos
A cidade dança ao som daquele disco
Fica tonta, rodopiando pelos becos
Com a cara suja de fuligem

A noite a transforma em fogueira
A cidade fica alegre, fica triste
Chora entre um trago e outro
Ri entre um trago e outro
Na manhã seguinte acorda e começa tudo outra vez

É a cidade das caminhadas preguiçosas
Dos finais de tarde
Ônibus quebrado, taxi maluco
Cidade dos parques, viadutos, avenidas
E de tudo o que sinto

Por mais que conheça outros lugares
Por mais que ande por aí
Nunca saio de verdade da cidade
Pois se é ela que habita em mim,
Como poderia deixá-la?

sábado, 3 de julho de 2010

No Caminho da Vida

Não há mais razão para se preocupar
Ficou o dito pelo não dito
Ficou o sorriso no rosto
E as lembranças de um amor
Que não terminou

Não tem mais jeito!
É o fim de uma história
Entra era e sai era e nós
Continuamos sendo os mesmos animais bobos
Que éramos há mil anos atrás

No caminho da vida
Perdeu-se a mágica
Morreram os príncipes
Acabou-se o encanto

Seríamos felizes e
Fomos felizes
Mas por ora vivemos apenas
De saudades.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Casa de Carnes

Múúúúúúú! Fazem as vaquinhas
Caminhando com cascos lustrosos
Em direção ao matadouro
Laço de fita nos chifres
Snatch!
Cabeças rolam no meio do salão
Carnezinhas temperadas no álcool
Sangue escorrendo no piso
Gado acéfalo e canibal
Come a carne e bebe o leite
É vaca contra vaca
É um rodízio de corpos
No holocausto da nova casa de carnes
Só sobrevivem os vegetarianos.

domingo, 30 de maio de 2010

Poeira

O tempo um dia parou e ela
Esqueceu-se de todas as coisas boas que
Vivera com ele
Rasgou as fotos enquanto as cartas
Já queimavam na pia da cozinha
As palavras voaram em cinzas e do centro da cidade
Misturaram-se com todas as outras poeiras do ar
Para nunca mais serem lidas:
A partir de então
Passariam a ser
Inaladas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Inseto

Tem um inseto no meu quarto
Ele chega todas as noites
Voando pela janela
Todas as noites
Entra em minha orelha
A noite inteira
Zunindo em minha cabeça
Esse inseto maldito
Rouba meu sono
Rouba meu sonho
Com sucesso
Porque toda a vez que entra em minha orelha
Toda a vez que o tenho em minha cabeça
Não penso em outra coisa a não ser
No inseto.

domingo, 23 de maio de 2010

O Tempo

Domingo. 23:59.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60.

00:00. Segunda.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sinal Vermelho

Parei o carro em frente ao mercadinho e foi aí que a vi. Roía as unhas vendo o trânsito. Um carro. Uma pessoa. Um carro. Uma pessoa. Um ônibus. Nada muito emocionante. Vestia um avental amarelo bordado: Mini Mercado Santo Antônio. Um sinônimo para mercadinho. Tinha longos cabelos castanhos, olhos negros e um corpo até que razoável. Imaginei-a quase nua, somente de avental, sobre mim. "Trabalho no balcão de frios. Adoro lingüiça, sabe". Por trinta segundos pensei que poderia amá-la.

Sinal Verde. Acelerei o carro e parti. Então não pensei em mais nada.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Reval

Tarde da noite em uma esquina perdida
O tempo apagou a revolução e agora a liberdade é
Engarrafada sob o nome A. Le Coq
Os costumes da Velha Ordem se perderam
Em batida eletrônica
Na rua não ecoam mais os hinos
Mas gritos alucinados de gringos em busca de
Sexo

Terviseks é
Terrible sex

Sigo em fila com meus camaradas
Marchando no underground
Estou perdido, mas resisto:
Tenho sangue no olhar e
Stalin estaria orgulhoso

Por 15 minutos
Depois por mais trinta
Trabalho em meio à fumaça
Faço florescer o bosque de Thoreau
Mas na podridão do verde
Perco a vez na pista de dança

Fujo para casa
Faço da cama um esconderijo
Porém é inútil resistir ao chamado
E volto a procurar o líder
Mesmo depois do trabalho forçado e
Das câmaras de gás
Fui abandonado
Comigo resta apenas A. Le Coq
E a má sorte.