domingo, 30 de maio de 2010

Poeira

O tempo um dia parou e ela
Esqueceu-se de todas as coisas boas que
Vivera com ele
Rasgou as fotos enquanto as cartas
Já queimavam na pia da cozinha
As palavras voaram em cinzas e do centro da cidade
Misturaram-se com todas as outras poeiras do ar
Para nunca mais serem lidas:
A partir de então
Passariam a ser
Inaladas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Inseto

Tem um inseto no meu quarto
Ele chega todas as noites
Voando pela janela
Todas as noites
Entra em minha orelha
A noite inteira
Zunindo em minha cabeça
Esse inseto maldito
Rouba meu sono
Rouba meu sonho
Com sucesso
Porque toda a vez que entra em minha orelha
Toda a vez que o tenho em minha cabeça
Não penso em outra coisa a não ser
No inseto.

domingo, 23 de maio de 2010

O Tempo

Domingo. 23:59.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60.

00:00. Segunda.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sinal Vermelho

Parei o carro em frente ao mercadinho e foi aí que a vi. Roía as unhas vendo o trânsito. Um carro. Uma pessoa. Um carro. Uma pessoa. Um ônibus. Nada muito emocionante. Vestia um avental amarelo bordado: Mini Mercado Santo Antônio. Um sinônimo para mercadinho. Tinha longos cabelos castanhos, olhos negros e um corpo até que razoável. Imaginei-a quase nua, somente de avental, sobre mim. "Trabalho no balcão de frios. Adoro lingüiça, sabe". Por trinta segundos pensei que poderia amá-la.

Sinal Verde. Acelerei o carro e parti. Então não pensei em mais nada.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Reval

Tarde da noite em uma esquina perdida
O tempo apagou a revolução e agora a liberdade é
Engarrafada sob o nome A. Le Coq
Os costumes da Velha Ordem se perderam
Em batida eletrônica
Na rua não ecoam mais os hinos
Mas gritos alucinados de gringos em busca de
Sexo

Terviseks é
Terrible sex

Sigo em fila com meus camaradas
Marchando no underground
Estou perdido, mas resisto:
Tenho sangue no olhar e
Stalin estaria orgulhoso

Por 15 minutos
Depois por mais trinta
Trabalho em meio à fumaça
Faço florescer o bosque de Thoreau
Mas na podridão do verde
Perco a vez na pista de dança

Fujo para casa
Faço da cama um esconderijo
Porém é inútil resistir ao chamado
E volto a procurar o líder
Mesmo depois do trabalho forçado e
Das câmaras de gás
Fui abandonado
Comigo resta apenas A. Le Coq
E a má sorte.