quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Primeiro Beijo

Eu devia ter uns catorze anos quando beijei pela primeira vez. Naquela idade, ser bv - o famoso boca virgem - era motivo de gozação. Os malandrinhos do colégio não perdiam oportunidades para zombar daqueles que, como eu, nunca tinham sentido a boca de outra pessoa. Eu não ligava para as piadas, ou, se ligava, não deixava a preocupação resplandecer. Atinha-me à idéia romântica, talvez até infantil, de que meu primeiro beijo seria algo especial. Para ser especial, teria de acontecer com alguém especial, em circunstâncias também especiais. Alimentava esse pensamento com força; desta forma me fazia imune ao chiste dos outros.

Naquele verão, fiquei interessado em uma menina. Era a prima de um vizinho meu. Veraniávamos na mesma praia desde muito tempo, mas até aquela temporada jamais havia reparado nela. Não sei ao certo o que aconteceu. O fato é que de uma hora para a outra aquela menina tornou-se alvo do meu desejo. Precisava beijá-la e precisava tornar o beijo aquela coisa especial. Falei de minhas intenções para um amigo. Ele era alguns anos mais velho do que eu e uma completa negação com as mulheres. Isso, contudo, não o empediu de conspirar em meu favor.

Certa noite, marcamos uma partida de Verdade ou Consequência. A brincadeira é bem simples: os participantes sentam em uma roda e, entre eles, coloca-se uma garrafa. Em seguida, gira-se a garrafa. O jogador para o qual o gargalo apontar deverá então escolher se deseja responder uma pergunta com sinceridade - a verdade -, ou se deseja cumprir uma tarefa - a consequência. Toda a gurizada do prédio se reuniu na garagem para jogar. Acho que éramos uns sete, incluindo a menina e eu. Depois de algumas rodadas de perguntas, respostas, e tarefas, a sorte finalmente me sorriu. O gargalo da garrafa se voltou para a menina, e o fundo para o meu amigo. Ela, pobrezinha, escolheu consequência. Não deu outra. Ele, sabendo de minhas intenções, exigiu que a menina me beijasse. Apesar de antever essa manobra, congelei. Ela também. Pela sua expressão, percebi que estava horrorizada. Na certa não tinha atração alguma por mim.

Depois de muito vai-não-vai, ela concordou em ir comigo para trás da garagem. O beijo aconteceu lá. Não foi nada mais do que um selinho, rápido e insosso. Eu, que esperava tanto do primeiro beijo, fiquei frustrado. Ela, enojada. Depois de mal enconstar seus lábios nos meus, a menina saiu correndo para casa. Fiquei sabendo, mais tarde, que ela chegou a lavar a boca com sabão. A notícia foi desastrosa. Fiquei triste e, como era de se esperar, nunca mais falei com a menina. Passei a vê-la com vergonha. Sentia que, de alguma forma, havia feito algo terrível. Sentia que a tinha violado. Depois disso, fiquei anos sem beijar alguém.

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